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Em busca de temas para a redação do Enem: sugestões

  • Foto do escritor: gleniosabbad
    gleniosabbad
  • 28 de out.
  • 6 min de leitura

Sugestão principal: leia jornais e seja transdisciplinar

Sugestão acessória: entenda as competências e os eixos temáticos


Por Glênio S Guedes ( advogado )


Este guia foi pensado para quem deseja transformar leitura cotidiana em repertório fértil para a redação do Enem. A orientação central é simples e exigente: leia jornais (lato sensu), relatórios, livros e escute debates com um olhar transdisciplinar. Em linguagem de Edgar Morin, trate cada pauta como um tecido (complexus) em que dimensões biológicas, psicológicas, sociais, econômicas, culturais, políticas e ecológicas se entrelaçam; fuja do pensamento linear “um problema = uma causa = uma solução” e treine a ecologia da ação (toda ação, ao entrar no meio social, sofre desvios e produz efeitos não previstos).


1) Como estudar: microcosmologias do cotidiano


Cada manchete contém uma microcosmologia da condição humana. Para treinar o olhar, percorra, por exemplo, estes conjuntos de temas recorrentes e plausíveis como eixo de proposta:


  • Clima, Amazônia e COP30 (Belém): crise climática, justiça climática, transição energética, povos da floresta, bioeconomia, cidades amazônicas, segurança hídrica, eventos extremos, adaptação e perdas e danos.

  • Infância, ECA 35 anos e “adultização”: proteção integral, violência escolar e doméstica, segurança on-line, ECA Digital (PL 2628/2022), educação socioemocional, convivência escolar, políticas públicas, participação comunitária.

  • Cultura digital, saúde mental, “brain rot” e vício em telas: hiperconexão, dependência digital, cyberbullying, atenção/concentração, inclusão digital crítica.

  • Tecnologia e IA: ética digital, autoria e integridade acadêmica, inclusão/soberania digital, impactos no trabalho e na educação, regulação.

  • Uberização e novas formas de trabalho: economia de plataformas, proteção social, formalização, qualificação, impactos urbanos (mobilidade, logística), assimetrias entre capital e trabalho.

  • Reforma administrativa: eficiência do Estado, carreiras, serviços à população, impacto fiscal, accountability e direitos dos usuários.

  • Oriente Médio: crises humanitárias, mediação internacional, direito humanitário, diplomacia energética, migrações e segurança global.

  • Guerra comercial China × EUA: cadeias globais, tarifas e tech war, propriedade intelectual, terras raras e minerais críticos, redes 5G/IA, reconfiguração geopolítica e impactos no Brasil (agro, manufaturas, dados).


Provocação salutar ao candidato: você já leu sobre os premiados do Jabuti 2025 e os temas culturais que emergem dali? O Livro do Ano foi O Ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim, de Ruy Castro, e a vitória de Respiro, de Armando Freitas Filho, em Poesia, além de Dores em Salva, de Elimário Cardozo, em Conto, sinalizam eixos de memória, música, identidade, linguagem poética e sociedade que podem enriquecer seu repertório. Pense em como literatura e música dialogam com ética, cidadania e história.


2) Cartilha do Enem 2025: as 5 competências — o que fazer (com exemplos concretos) e o que evitar


Use a Cartilha do(a) Participante – Redação do Enem 2025 como seu manual de bordo. Ela traz a matriz de referência e redações-modelo comentadas.


Competência I — Domínio da norma padrão


Faça:


  • Ortografia, acentuação, concordância, regência e colocação pronominal cuidadas.

  • Exemplo prático (tema IA/era digital): “A regulação da IA demanda diretrizes claras para que escolas garantam autoria e integridade acadêmica.” (observe crase, concordância e coesão).

  • Evite: coloquialismos (“tipo”, “a gente”), marcas de oralidade, gírias de rede, abreviações (“vc”, “pq”), pleonasmos e clichês.


Competência II — Compreender a proposta e aplicar conceitos de várias áreas


Faça:


  • Ler com atenção a proposta, identificar o recorte e articular repertório legítimo (livros, leis, dados públicos, reportagens, filmes, canções) sem fugir ao tema.

  • Exemplo prático (Infância/ECA 35 anos): referencie o ECA e a noção de proteção integral; discuta violência escolar/doméstica; conecte com políticas públicas e com a pauta de “adultização” e segurança digital.

    Evite: tangenciamento (falar genericamente de “família” sem tratar do eixo infância e direitos), enfileirar exemplos sem análise e opiniões genéricas. A própria Cartilha alerta para abordagem focada e articulada ao comando.


Competência III — Selecionar e organizar argumentos


Faça:


  • Construa dois ou três argumentos fortes, com causas, consequências e dados/referências.

  • Exemplo prático (Clima/COP30): argumento 1 — a urgência de adaptação de cidades amazônicas; argumento 2 — bioeconomia e proteção de povos da floresta; argumento 3 — governança climática e financiamento para perdas e danos.

  • Exemplo prático (IA): ética digital, inclusão e autoria/antiplágio; exponha benefícios e riscos com equilíbrio. Evite: ilustrações “soltas” (casos isolados sem ligação causal), listas sem hierarquia, “tecnofilia acrítica” ou “tecnofobia alarmista”.


Competência IV — Coesão e encadeamento


Faça:


  • Use conectores com propósito: por conseguinte, ademais, nesse sentido, todavia, em contrapartida.

  • Exemploprático(Culturadigital/saúdemental): encadeie“hiperconexão→atenção/concentração → brain rot → impactos na aprendizagem → políticas de prevenção”.


Evite: repetição de conectores, frases telegráficas, parágrafos “blocos” sem transição.


Competência V — Proposta de intervenção (viável, detalhada, com respeito aos direitos humanos)


Faça:


  • Quem faz? (órgão, escola, ONG, mídia, plataforma, empresa), o que faz?, como e com qual finalidade. A Cartilha é explícita sobre detalhamento e viabilidade.

  • Exemplo prático (Uberização): Ministério do Trabalho + governos estaduais — criar programa de proteção a trabalhadores de plataforma (contribuição previdenciária facilitada + seguro-acidente + programas de requalificação), via convênios com plataformas e S system (SESC/SENAI/SENAC), para reduzir vulnerabilidades e promover mobilidade de carreira.

  • Exemplo prático (Reforma administrativa): Casa Civil + Ministério da Gestão — pactuar metas de qualidade do serviço com indicadores públicos, formação continuada e avaliação periódica nas carreiras de atendimento direto ao cidadão, para elevar eficiência sem suprimir direitos.

  • Exemplo prático (Oriente Médio): Itamaraty + ACNUR + sociedade civil — corredores humanitários e acolhimento temporário com triagem de saúde/educação, para proteger vulneráveis e fortalecer a diplomacia humanitária brasileira.


Evite nesta competência: “soluções mágicas”, medidas sem agente executor, sem mecanismos, sem prazo, sem indicador. Jamais proponha violação de direitos humanos.


3) Exercícios-guia por eixo


A) Clima, Amazônia e COP30

Tese-modelo: “A crise climática demanda políticas de adaptação em cidades amazônicas e expansão de bioeconomia, sob governança participativa de povos da floresta.”Intervenção: ver Competência V (acima).


B) Infância/ECA 35 anos e “adultização”

Tese-modelo: “A proteção integral de crianças e adolescentes exige freios à adultização digital, combate à violência e educação socioemocional.”

Repertório: ECA, dados de violência escolar, ECA Digital, convivência escolar.


C) Cultura digital, saúde mental e brain rot

Tese-modelo: “A hiperconexão, sem letramento digital crítico, agrava transtornos e rebaixa a atenção, exigindo políticas de prevenção e uso responsável.”


D) Inteligência Artificial e era digital

Tese-modelo: “O uso ético e inclusivo da IA na educação requer regulação, formação docente e garantia de autoria.”


E) Uberização do trabalho

Tese-modelo: “A economia de plataformas impõe recomposição de proteção social e qualificação contínua para reduzir precariedades e ampliar oportunidades.”


F) Reforma administrativa

Tese-modelo: “A reforma deve combinar eficiência e direitos, com ênfase em métricas de qualidade do serviço ao cidadão.”


G) Oriente Médio

Tese-modelo: “Crises no Oriente Médio convocam o Brasil a uma diplomacia humanitária e a políticas de acolhimento, articuladas com a comunidade internacional.”


H) Guerra comercial China × EUA

Tese-modelo: “A disputa tecnológica e comercial reorganiza cadeias globais; o Brasil precisa fortalecer inovação, política industrial verde e soberania digital.”


4) Como a transdisciplinaridade ajuda (com Morin na prática)


  • Cabeça bem-feita: organizar conhecimentos, não só acumulá-los. Traga história, geografia, economia, filosofia, direito, biologia, comunicação e artes para ver o todo e as partes.

  • Ecologia da ação: mostre que políticas têm efeitos colaterais (ex.: regular IA melhora a autoria, mas pode criar barreiras tecnológicas se não houver inclusão digital).


5) Modelos da Cartilha: aprenda com boas práticas


A Cartilha apresenta redações-modelo comentadas: observe como leitura do comando, encadeamento lógico e proposta viável resultam em desempenho alto. Use-as como espelho.


6) “O que evitar” (checklist rápido)


  • Fuga ao tema, tangenciamento e redação “sobre o mundo” sem dialogar com o recorte proposto.

  • Clichês e dualismos fáceis: “tem prós e contras”, “a tecnologia é boa e ruim”. A recomendação é nuançar e exemplificar.

  • Erro factual (datas, leis, órgãos), copiar trechos dos textos de apoio, argumento de autoridade vazio (“segundo especialistas”) sem especificar fonte.

  • Proposta de intervenção sem agente, ação, modo e finalidade.


7) Roteiro semanal mínimo (enxuto e eficiente)


  1. Jornais (lato sensu): selecione de 3 a 5 reportagens dos eixos acima e extraia ideia central + dado + implicação.

  2. Livro/ensaio: a cada 15 dias, leia um capítulo de um autor-ponte (Morin; um título Jabuti recente; um clássico de educação/ética).

  3. Cartilha: revise as 5 competências e refaça uma proposta com foco em Competência V.

  4. Escrita: treine 1 texto/semana variando eixos (clima; infância; IA; trabalho/plataformas; geopolítica).

  5. Revisão: leia em voz alta; cheque coerência de tese, coesão entre parágrafos e viabilidade da intervenção.


8) Fechamento: cultura, ciência e cidadania


Literatura e ciência não “enfeitam” a redação: fundamentam a cidadania que o Enem cobra. A lista do Jabuti 2025 lembra que memória, música e linguagem são parte indissociável do debate público; a Cartilha lembra que clareza, foco, coesão e intervenção responsável são o coração da prova. Leia o mundo — e escreva como quem o melhora.


Bibliografia-referência


  • INEP. A redação do Enem: Cartilha do(a) Participante (2025). Brasília: Inep/MEC, 2025. Disponível on-line (publicada em setembro de 2025).

  • MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 5. ed. Porto Alegre: Sulina, 2015. (conceitos de complexus e cabeça bem-feita).

  • MORIN, Edgar. A inteligência da complexidade. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2007. (noção de ecologia da ação).

  • CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO (via Estadão). “Prêmio Jabuti 2025: Ruy Castro ganha Livro do Ano; veja lista completa de vencedores.” Publicado e atualizado em 27 out. 2025. (Lista oficial de vencedores e destaques por eixo/categoria).


Observação: os exemplos temáticos sobre clima/COP30, infância/ECA/adultização, IA/era digital e cultura digital/saúde mental foram organizados a partir de leitura de jornais (lato sensu) e dos materiais de estudo; as formulações aqui mantêm foco pedagógico e não vinculam o leitor a um único veículo. As orientações técnicas, critérios e modelos baseiam-se na Cartilha do Enem 2025.

 
 
 

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